quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Roubada por militares na ditadura, deputada argentina luta pelos direitos humanos

O passado de Victoria Donda guardava um segredo atroz: filha de militantes de esquerda torturados na prisão, ainda bebê foi subtraída de seus pais e criada por militares


Victoria Donda nunca se esquecerá daquela tarde de inverno, em agosto de 2003. Preocupada com o telefonema de um amigo querido, “Yuyo”, partiu apressada de casa ao seu encontro. O rapaz estava vinculado ao movimento das Mães da Praça de Maio, que agrupa desde 1977 mulheres cujos filhos desapareceram na ditadura argentina (1976-1983). Segundo ele, o assunto era urgente. “Depois da conversa, saí do bar onde nos encontramos sem saber quem eu era. Voltei para casa caminhando como um zumbi, em piloto automático”, conta a jovem, em tom de voz tenso.

“Yuyo” lhe contou que as Avós da Praça de Maio, mães de desaparecidos que buscam netos nascidos em prisões ou cativeiros, e que posteriormente foram adotados, suspeitavam há anos que ela era uma das crianças. As "abuelas" (avós em espanhol) haviam sido alertadas por um telefonema anônimo. “Suponho que a pessoa que fez a ligação sempre tenha desconfiado, já que minha mãe não apareceu grávida”, explica.

Aos 24 anos, Victoria – desde a adolescência militante de movimentos populares –, batizada com o nome de Anália, aprendeu que tinha outra identidade. O homem que chamou de pai durante toda a vida era amigo de militares. Mais tarde, ela descobriria que ele agiu durante a repressão contra seus verdadeiros pais. A guinada em sua biografia fez com que, em 2007, a jovem, então com 29 anos, seguisse traçando sua carreira política, consagrando-se deputada federal pela província de Buenos Aires, onde atua ativamente a favor dos direitos humanos e contra os torturadores. Victoria se tornou um símbolo.
 
Victoria Donda nunca se esquecerá daquela tarde de inverno, em agosto de 2003. Preocupada com o telefonema de um amigo querido, “Yuyo”, partiu apressada de casa ao seu encontro. O rapaz estava vinculado ao movimento das Mães da Praça de Maio, que agrupa desde 1977 mulheres cujos filhos desapareceram na ditadura argentina (1976-1983). Segundo ele, o assunto era urgente. “Depois da conversa, saí do bar onde nos encontramos sem saber quem eu era. Voltei para casa caminhando como um zumbi, em piloto automático”, conta a jovem, em tom de voz tenso.

“Yuyo” lhe contou que as Avós da Praça de Maio, mães de desaparecidos que buscam netos nascidos em prisões ou cativeiros, e que posteriormente foram adotados, suspeitavam há anos que ela era uma das crianças. As "abuelas" (avós em espanhol) haviam sido alertadas por um telefonema anônimo. “Suponho que a pessoa que fez a ligação sempre tenha desconfiado, já que minha mãe não apareceu grávida”, explica.

Aos 24 anos, Victoria – desde a adolescência militante de movimentos populares –, batizada com o nome de Anália, aprendeu que tinha outra identidade. O homem que chamou de pai durante toda a vida era amigo de militares. Mais tarde, ela descobriria que ele agiu durante a repressão contra seus verdadeiros pais. A guinada em sua biografia fez com que, em 2007, a jovem, então com 29 anos, seguisse traçando sua carreira política, consagrando-se deputada federal pela província de Buenos Aires, onde atua ativamente a favor dos direitos humanos e contra os torturadores. Victoria se tornou um símbolo.

Instalada no sofá do modesto, mas charmoso apartamento no centro de Buenos Aires, Victoria parece não saber por onde começar a relatar sua história. “Falei com meus pais, que me confirmaram que eu não era sua filha biológica. Chorei muito”, diz. Chocada, a estudante de Direito demorou seis meses para se submeter a um teste de DNA e autorizar que este fosse comparado a um banco de dados organizado pelo movimento das “abuelas” no hospital rural de Buenos Aires.

Acompanhada por vários amigos, entre os quais Lydia, colega militante e sobrevivente do centro de tortura da Escola Mecânica da Marinha (ESMA, na sigla em espanhol), ela pode então comparar seu DNA com o de 500 mulheres grávidas desaparecidas. Ela conta que a cena foi quase cômica, pois havia esquecido sua cédula de identidade em casa. “A única coisa que tinha era o cartão para alugar vídeos. Eles disseram que não podia fazer o teste sem prova de identidade, e eu respondi que essa era justamente a razão pela qual estava lá. Deu certo”, relata.

Seis meses depois, a resposta chegou: Anália era na verdade filha de María Hilda Pérez e José María Donda, apelidados de “Cori” e “el Cabo” pelos companheiros. Os dois eram membros da guerrilha montonera, facção do partido peronista opositora à ditadura. “Mamãe estava grávida de sete meses quando foi pega”, conta a jovem. Na estante feita de madeira e tijolos, entre a multidão de livros, há uma foto em preto e branco. “São meus pais biológicos no dia do casamento. Um visual muito anos 1970, não?”, brinca.

A menina nasceu em 1977, provavelmente na “sala das grávidas” da ESMA. Não sabe a data exata. Mas por sorte, descobriu que a amiga, Lydia, tinha conhecido sua mãe nos últimos dias de gravidez e a ajudado depois do parto. “Contou-me que me deixaram quinze dias com ela, para que me amamentasse; estávamos na ‘capucha’”, diz, em referência a uma das duas salas principais da ESMA. “Pelo o que soube, eu era muito chata, chorava o tempo todo e incomodava as outras prisioneiras”, narra, com um sorriso. De repente, mais séria, ela acrescenta: “Lydia me disse que minha mãe me chamou de Victoria. De um dia para o outro, abandonei Anália e virei Victoria”.

Conhecer a nova família foi doloroso. “Tem uma parte boa e uma parte podre”, explica. Victoria descobriu que seu tio biológico, Adolfo Donda, era um torturador famoso, chefe das operações na ESMA. Foi ele quem organizou sua adoção, provavelmente após assistir à tortura e à morte da mãe. Adolfo foi preso em 1984, um ano após o restabelecimento da democracia, quando o já falecido presidente Raul Alfonsin autorizou o julgamento dos envolvidos na ditadura. Após dois anos na cadeia, foi solto: o mesmo Alfonsin, pressionado pelos militares, havia promovido duas leis de anistia, chamadas de “obediência devida” e “ponto final”.

Victoria soube também da existência de uma irmã mais velha, Daniella, com quem não tem nenhuma relação. “Ela não quer me conhecer. Foi criada por meu tio, que a adotou quando saiu da cadeia, em 1986. Adolfo até mudou seu nome, que era Eva, escolhido por meus pais em homenagem a Eva Perón”, diz.

A avó materna de Victoria ainda está viva. Trata-se de Leontina Puebla de Pérez, uma das fundadoras do movimento das “abuelas”. Mora desde 1986 em Toronto, Canadá. “Leontina militou no movimento para me encontrar, mas quando meu tio saiu da cadeia, ele a ameaçou de morte. Ela então teve que fugir para o exterior”, justifica Victoria, que conheceu a avó vinte anos depois do exílio, em 2006.

Do pai, a garota não sabe nada. “Não acredito que tenha morrido na ESMA, acho que sumiu na Aeronáutica, mas não tenho certeza”, murmura em voz baixa. O único que conhece a verdade é o tio, que foi preso novamente em 2003, depois da revogação das leis de anistia pelo ex-presidente Nestor Kirchner. Ele agora aguarda ser julgado por crimes contra a humanidade. Victoria tentou visitá-lo para saber mais sobre sua história, mas Aldolfo se recusa a recebê-la.

A jovem não rompeu com a família de seus “apropriadores”, neologismo inventado para descrever a situação dos pais adotivos. Seu pai, Juan Antonio Azic, tentou de suicidar em 2003 quando soube que a Justiça iria revelar sua verdadeira identidade de torturador da ESMA. A própria Victoria relata a cena em um livro publicado em junho passado – uma maneira que encontrou para virar definitivamente essa página de sua vida. “Eu sei, claramente, que fui ‘apropriada’. Mas isso não significa que não tenho sentimentos ambíguos em relação àquele que foi meu ‘apropriador’, são sentimentos”, escreve no livro. “Quando uma pessoa ama outra, não tem jeito. E ninguém, nem as "abuelas", acham que tenho de odiar meu ‘apropriador’”, afirma.

FONTE: OPERA MUNDI - Lamia Oualalou - 04/08/2009  (http://operamundi.uol.com.br/perfil_ver.php?idConteudo=36)





terça-feira, 28 de setembro de 2010

ANISTIA DENUNCIA DEPORTAÇÃO DE ETNIAS MINORITÁRIAS PARA O KOSOVO

O RELATÓRIO DA ORGANIZAÇÃO DIZ QUE 10 MIL MEMBROS DE ETNIAS MINORITÁRIAS QUE CORREM O RISCO DE SER EXPULSOS DA ALEMANHA DE VOLTA PARA O KOSOVO. A ANISTIA DIZ QUE PAÍS BALCÂNICO NÃO TEM CONDIÇÕES DE REINTEGRAR ESSES CIDADÃOS.


A política de expulsão de membros da etnia rom não é exclusividade do governo francês. Diversos países europeus estão extraditando cidadãos pertecentes a essa e a outras minorias para o Kosovo, segundo um relatório da Anistia Internacional divulgado nesta terça-feira (28/09).

Além dos roma, nações da União Europeia vêm expulsando membros das etnia ashkali, egípcios e sérvios para o país balcânico. Segundo a organização, o número total de pessoas que ainda enfrentam esse risco é desconhecido. Dados das Nações Unidas falam em 50 mil; só na Alemanha, há 10 mil roma sob a ameaça de deportação, e na Suíça 2 mil.

"Os países da UE correm o risco de violar leis internacionais enviando de volta pessoas a lugares onde elas correm risco de perseguição ou outros sérios danos. A UE deveria continuar oferecendo proteção internacional aos roma e outros grupos minoritários do Kosovo, até que eles possam retornar em segurança", disse Sian Jones, da Anistia Internacional.

Os retornos forçados se sustentam nos acordos bilaterais de readmissão assinados entre o Kosovo e alguns países da União Europeia, a partir da independência da ex-província sérvia, em 2008. Os acordos permitem a remoção de cidadãos kosovares cujo status de proteção temporária tenha expirado. O país que queira promover a deportação precisa receber uma confirmação do Ministério do Interior em Prístina.

No entanto, para a Anistia Internacional, essas minorias expulsas enfrentam uma situação de risco ao retornar ao Kosovo, estando expostas a discriminação e perseguição. Ainda segundo o relatório, o país não tem condições e recursos para reintegrar esses cidadãos.

O Ministério do Interior do Kosovo afirma que 4.067 pessoas retornaram ao país em 2009 por meio do acordo de readmissão. Além disso, as autoridades kosovares receberam mil pedidos de readmissão entre começo de janeiro e final de abril de 2010.

No entanto, segundo a Anistia Internacional, o número preciso de regressantes sob o acordo é desconhecido, pelo fato de alguns países não divulgarem informações referentes a esse tipo de deportação.

Desde 2008, a Agência de Refugiados das Nações Unidas estima que 7.021 membros de etnias minoritárias e albaneses foram forçados a deixar a Europa Ocidental e retornar ao Kosovo. Ainda segundo a organização, dados recentes mostram que o número de extradições de roma e sérvios está aumentando.

A maioria dos membros dessas etnias deixaram o Kosovo depois de 1999, quando o país estava em guerra. Muitos roma e sérvios que viviam naquela região partiram para a Sérvia, e outros buscaram proteção internacional em países da UE. Em 2004 houve uma outra corrente de migração do Kosovo devido aos conflitos étnicos subsequentes.

Em abril passado, a Alemanha selou um acordo de readmissão com o Kosovo. O acerto atinge cerca de 8.500 roma, segundo comunicou o Ministério do Interior em Berlim. As autoridades alemãs declararam que não pretendem promover deportações em massa, como as que ocorreram na França.

O Kosovo tem acordos de readmissão com a Áustria, Bélgica, Dinamarca, Hungria, Holanda, Suécia e Suíça. Outros países europeus estão negociando acertos semelhantes com o país balcânico.

Autora: Nádia Pontes/Revisão: Simone Lopes





domingo, 26 de setembro de 2010

SE EU FOSSE VENEZUELANO - FIDEL CASTRO | HAVANA

Este domingo (26/9) é um dia importante para a Venezuela. Estão anunciadas as eleições para escolher 165 membros do Parlamento, e em torno do importante evento se trava uma histórica batalha.

Mas ao mesmo tempo, as noticias sobre as condições climáticas são desfavoráveis. Fortes chuvas estão castigando a terra que foi o berço do Libertador.
As chuvas excessivas afetam os pobres mais do que a qualquer outro. São os que têm as casas mais modestas, vivem nos bairros mais esquecidos historicamente, com difícil acesso, ruas ruins, e menos trânsito. Quando as águas invadem seus lares, perdem tudo. Eles não dispõem das casas cômodas e seguras dos ricos, suas amplas avenidas e abundantes meios de transporte.

Não se trata de uma eleição presidencial. Nas eleições exclusivamente parlamentares, a população se mobiliza pouco e ocorre frequentemente a diminuição de sua importância.

Em geral, onde o imperialismo domina e a oligarquia oportunista recebe uma parte substancial dos bens e serviços nacionais, as massas não têm nada a ganhar ou perder e ao império, as eleições não preocupam nem um pouco. Nos Estados Unidos, nem sequer as eleições presidenciais mobilizam mais de 50% dos que têm direito a votar.

Por que, ao contrario, seus enormes recursos midiáticos se voltam desta vez contra a Venezuela e a submetem a um implacável bombardeio de mentiras e calúnias contra o governo revolucionário bolivariano?

Não tentarei amontoar argumentos para persuadir um povo valente e digno como é o da Venezuela. Vi as mobilizações populares e o fervor de milhões de pessoas, especialmente as mais humildes e combativas, que tiveram o privilégio de viver uma etapa nova na história de seu país, que devolveu ao povo os fabulosos recursos da Venezuela. Sua Pátria já não é uma nação de analfabetos, onde milhões de homens, mulheres e crianças sobreviviam na extrema pobreza.

Não lhes falarei de uma experiência que Cuba viveu, da qual falam 50 anos de resistência heróica frente ao bloqueio e os repugnantes crimes do governo dos Estados Unidos.

Digo-lhes simplesmente o que eu faria se fosse venezuelano.

Enfrentaria as chuvas, e não permitiría que o império tirasse nenhum proveito delas; lutaria junto a vizinhos e familiares para proteger as pessoas e seus bens, mas não deixaria de ir votar como um dever sagrado: em qualquer hora, antes da chuva, debaixo de chuva ou depois da chuva, enquanto haja um colégio aberto.

Estas eleições têm uma importância enorme e o império sabe: Quer subtrair força à Revolução, limitar sua capacidade de luta, privá-la de duas terças partes da Assembleia Nacional para facilitar seus planos contrarrevolucionários, incrementar sua vil campanha midiática e continuar arrodeando a Venezuela de bases militares, cercando-a cada vez mais com as letais armas do narcotráfico internacional e da violência.

Se existem erros, não renunciaria jamais à oportunidade que a Revolução oferece de retificar e vencer os obstáculos.

Se eu fosse venezuelano, ainda que sob raios e trovões lutaria até a medida do impossível para transformar o 26 de setembro em uma grande vitória.

FONTE: OPERA MUNDI - 26/09/2010 (http://operamundi.uol.com.br/opiniao_ver.php?idConteudo=1249)

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

THAILAND´S SCHOOLS UNDER ATTACK

ATTACKS ON SCHOOLS IN SOUTHERN THAILAND, AS PART OF AN INCREASINGLY BRUTAL SEPARATIST INSURGENCY, HARM CHILDREN AND ROB THEM OF AN EDUCATION


Ethnic Malay Muslim insurgents, who view the government educational system as a symbol of Thai state oppression, have threatened and killed teachers, burned and bombed government schools, and spread terror among students and their parents. The insurgents have also used Islamic schools to indoctrinate and recruit students into their movement.

Insurgents are suspected of killing at least 135 government teachers and education personnel and wounding an additional 100 education workers in southern Thailand since January 2004. The vast majority were ethnic Thai Buddhists. There have been at least 327 arson attacks on government schools since January 2004.

The Thai government’s military forces frequently occupy schools in the south, sometimes for years, disrupting education and putting students at risk of attack. These security forces conducted numerous raids at Islamic schools, seeking suspected insurgents and weapons, sometimes arbitrarily arresting students en masse. On some occasions, the raids have turned violent, endangering students and teachers.

In addition to hurting children, these government practices create further grievances for the insurgents to exploit.

sábado, 28 de agosto de 2010

KENYA: ARREST BASHIR OR BAR HIM ENTRY

ICC MEMBER STATES OBLIGED TO ARREST FUGITIVES ON THEIR TERRITORIES

(New York) - Kenya should bar Sudanese President Omar al-Bashir from entering Kenya or arrest him for trial at the International Criminal Court (ICC) if he enters Kenyan territory, Human Rights Watch said today. The Sudanese state news agency has reported that al-Bashir will travel to Kenya on August 27, 2010, to attend the celebration of Kenya's new constitution.

"Kenya will forever tarnish the celebration of its long-awaited constitution if it welcomes an international fugitive to the festivities," said Elise Keppler, senior counsel in the International Justice Program at Human Rights Watch. "Even worse, hosting al-Bashir would throw into question Kenya's commitment to cooperate with the ICC in its Kenyan investigation."

Al-Bashir is subject to two arrest warrants issued by the ICC for atrocities committed in Darfur in Sudan. The first was issued in March 2009 on charges of war crimes and crimes against humanity. The second was issued in July 2010 on charges of genocide.

Kenya is a state party to the ICC. The court's treaty, the Rome Statute, requires states to cooperate with the court, which includes the execution of arrest warrants.

Kenya is also the site of another ongoing ICC investigation, this one focused on serious crimes committed following Kenya's 2007 general elections. The Kenyan government has pledged full cooperation with the ICC in its investigation in Kenya. As recently as June 2010, the government reaffirmed this commitment at the ICC's review conference, which took place in Kampala, Uganda from May 31 to June 11.

Whether Kenya allows a suspected war criminal into Kenya is a test of the government's commitment to a new chapter in ensuring justice for atrocities," said Keppler. "The Kenyan government should stand with victims, not those accused of horrible crimes, by barring al-Bashir from Kenya or arresting him."

Although the African Union (AU) has issued a call for its members not to cooperate in the arrest of al-Bashir, African states - including Botswana and South Africa - have made clear that the call does not trump the obligations of ICC member states to cooperate with the court. An AU decision on the ICC at the union's most recent summit in July itself recognizes the need for ICC members to balance AU obligations with obligations under the court's Rome Statute, Human Rights Watch said.

In addition to the warrants for al-Bashir in the ICC's investigation in Darfur, in April 2007 the ICC issued warrants for Ahmed Haroun, then the country's minister for humanitarian affairs and now governor of Southern Kordofan state, and Ali Kosheib, whose real name is Ali Mohammed Ali, a "Janjaweed" militia leader. The ICC prosecutor has also issued summons to three Darfuri rebel leaders to appear for attacks on an AU base in Haskanita in Darfur.

Sudan has refused to cooperate with the ICC's work to ensure justice for crimes in Darfur. In June, the ICC issued a judicial finding of non-cooperation by the government of Sudan with respect to execution of the arrest warrants for Haroun and Kosheib, which have been outstanding for more than three years.

FONTE: HUMAN RIGHTS WATCH - 27 de agosto de 2010 (http://www.hrw.org/en/news/2010/08/26/kenya-arrest-bashir-or-bar-him-entry)


quinta-feira, 19 de agosto de 2010

COMPRA DA TAM PELA LAN CHILE AMEAÇA SOBERANIA AÉREA E INTEGRAÇÃO

O anúncio da associação entre a LAN Chile e a brasileira TAM, na última sexta-feira (13/08), fez vibrar o noticiário. A negociação, afinal, prevê a formação do maior conglomerado de transporte aéreo da América Latina, com valor acionário de US$ 12,2 bilhões – o terceiro do mundo no setor, atrás apenas das estatais Air China e Singapore Airlines.

O negócio, porém, está longe de ser importante apenas para seus investidores. As repercussões possíveis dizem respeito à política internacional do governo brasileiro, à estabilidade do mercado interno e aos rumos da integração latino-americana. Os termos acertados entre os dois grupos empresariais provocam, de fato, reviravolta em ramo estratégico do desenvolvimento econômico.
 
O acordo cria uma holding chamada Latam, sediada em Santiago. Atual controladora da LAN, a família Cueto será proprietária de 70,6% da nova empresa. A família Amaro, da TAM, ficará com os restantes 29,4%. O presidente da companhia brasileira, Maurício Amaro, apesar de sócio minoritário, foi indicado para presidente do Conselho de Administração. As operações efetivas, contudo, serão dirigidas por Enrique Cueto, apontado como chefe executivo da Latam.
 
A lei brasileira proíbe que estrangeiros detenham mais que 20% do capital votante das empresas aéreas. O acerto entre chilenos e brasileiros, no entanto, contornou criativamente o problema. A Latam terá 100% das ações preferenciais (sem direito a voto) do grupo brasileiro, mas apenas 20% das ações ordinárias. Caso a legislação mude, ampliando para 49% o teto fixado ao capital internacional, os Amaro se comprometem a vender sua participação até essa cota máxima.
 
Apesar de as duas companhias aéreas seguirem existindo como firmas autônomas, nenhuma delas continuará a ser listada em bolsas. A Latam participará do mercado acionário de Nova Iorque e Santiago. A empresa fundada por Rolim Amaro, porém, deixará de existir na Bolsa de São Paulo, que não negocia papéis diretos de empreendimentos sediados em outro país. Sua presença ocorrerá apenas sob a forma de BDRs (certificados de depósitos) emitidos pela holding, que substituirão as ações preferenciais e serão comercializados no Chile ou nos Estados Unidos.
 
A questão, contudo, não se resume à desnacionalização do centro dirigente de importante empresa brasileira. A estratégia da LAN tem um declarado propósito monopolista. Dotada de saudável musculatura financeira, a empresa chilena tem condições de amealhar crédito suficiente para impulsionar poderosas ações de dumping no mercado brasileiro e latino-americano.
 
Uma forte baixa tarifária, que a princípio seria eventualmente recebida com satisfação pelos consumidores, poderia levar os concorrentes a perder espaço ou mesmo à bancarrota, até seu controle ser assumido pela recém-criada Latam. Terminada a guerra de preços e abatida a concorrência, as tarifas entrariam em rota de recuperação, já sob a batuta de um oligopólio que estenderia seus tentáculos por todo o continente.
 
Os custos econômicos e sociais desse cenário são previsíveis. Ainda mais clamoroso, porém, seria o risco de o Brasil perder soberania aérea, ao deixar que seu mercado seja controlado por empresa privada estrangeira. Nenhum país relevante, que busque caminho sustentável e autônomo de desenvolvimento, prescinde de companhias próprias em áreas como transporte aéreo, telecomunicações ou energia. Até por razões de segurança nacional.

Não seriam prejudicados, com o acordo anunciado, apenas interesses brasileiros. Além da formação da Latam estar dissociada dos instrumentos de integração latino-americana, são de conhecimento público os laços íntimos que vinculam a LAN Chile ao presidente Sebastián Piñera. Seu principal proprietário até poucos meses e aliado histórico da família Cueto, o líder direitista é desfavorável ao descolamento regional em relação à hegemonia dos Estados Unidos, além de adversário dos governos que impulsionam a constituição de um bloco independente.
 
Não é problema de pouca monta, afinal, enfrentar o desafio integracionista sem projeto sólido, respaldado por aliança entre empresários e poder público, que garanta o controle das rotas aéreas e da aviação civil. A transnacionalização ou o predomínio da lógica de mercado são evidentes fatores de instabilidade. Nesse sentido, a aquisição disfarçada da TAM pela LAN tem razoável potencial para colocar o setor aéreo em cenário de fortes turbulências.


Breno Altman - jornalista e diretor editorial do sítio Opera Mundi

FONTE: CARTA MAIOR
(http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=4748&boletim_id=748&componente_id=12482)

terça-feira, 17 de agosto de 2010

SERÁ QUE STALIN TINHA RAZÃO?

O caso da iraniana, Sakineh Mohammadi Ashtiani, condenada à morte por apedrejamento, tem despertado a atenção da mídia internacional e já causou protestos em vários países. Nada mais justo! Mãe de duas crianças, já recebeu 99 chibatadas por ter mantido um “relacionamento ilícito” com um homem acusado de assassinar seu marido. Além disso, há indícios de que tenha sido torturada. O Irã é um dos paises onde mais têm ocorrido execuções (388) no mundo com um aumento significativo após a fraude eleitoral, mas não é caso único. Segundo estimativas da Anistia Internacional aproximadamente 714 pessoas foram executadas em 2009. (Iraque, 120; Arábia Saudita, 69; EUA, 52; Yemen, 30. A China não fornece nenhum tipo de informação, provavelmente foram milhares). Houve repercussão? Ou o problema maior é o apedrejamento num pais inimigo?

No Iraque, um país sob ocupação dos EUA, foram assassinadas (“assassinatos pela honra”), somente em Bagda, 133 mulheres em 2007. Mas, devemos olhar para outros registros também. Numa pesquisa realizada pelo conceituado jornal médico The Lancet, estima-se que mais de 600 mil iraquianos foram mortos como resultado da invasão dos EUA até 2006. Calcula-se que já está em torno de mais de um milhão de Iraquianos mortos de acordo com a Opinion Research Business (conceituada agência britânica de pesquisa). A grande imprensa não deu o devido destaque, mas há uma discussão no Congresso dos EUA sobre a possibilidade de cortar a ajuda humanitária às vítimas civis de ataques das forças americanas.

Nesse mês de agosto, em que o tema dos Direitos Humanos passou a ser ventilado por todos, inclusive pelo Jornal Nacional que questionou a candidata do PT, deveríamos aproveitar a ocasião das “celebrações” e relembrar o que aconteceu há exatamente 65 anos para podermos compreender como as potências mundiais se preocupam com os direitos humanos.

O então presidente dos EUA Harry Truman foi um dos maiores entusiastas da Declaração Universal dos Direitos humanos aprovada na ONU em Dezembro de 1948. (Será preciso lembrar a condição de desrespeito aos direitos humanos dos negros nos EUA?) Isso mesmo, 3 anos após ( Agosto de 1945) ter autorizado o lançamento das bombas nucleares que causou a morte imediata de 200 mil pessoas e aproximadamente 100 mil feridos com o objetivo “humanitário” de "salvar milhões de vidas", proporcionando um fim rápido para a guerra.

Para além das questões morais envolvidas, foi necessário o ataque nuclear? O Japão já havia sido derrotado militarmente. Contra a defesa área e marítima japonesa praticamente aniquiladas, os bombardeiros dos EUA promoviam uma verdadeira devastação em suas cidades. Na noite de 10 março de 1945, uma onda de 300 bombardeiros americanos atingiu Tóquio, matando 100 mil pessoas e queimando 35 % das residências. Um milhão de moradores foram desalojados. A comida tinha-se tornado tão escassa que a maioria dos japoneses sobreviviam com uma dieta de fome. No dia 23 de maio ocorreu a maior incursão aérea da Guerra do Pacífico, quando foram lançadas 10 mil toneladas de bombas incendiárias em Tóquio e outras grandes cidades (veja esse relato no Filme: A Nevoa da Guerra).

De acordo com comandante da força aérea americana, LeMay, o objetivo dos bombardeiros americanos era conduzir os japoneses “de volta à idade da pedra". Mas o mesmo general disse que "A bomba atômica não tinha nada a ver com o fim da guerra." Hoje, há farta documentação mostrando que os japoneses, em meados de abril de 1945, estavam oferecendo termos de rendição praticamente idênticos aqueles que foram aceito pelos norte-americanos em setembro (ver a excelente pesquisa histórica sobre essa questão no The Journal of Historical Review, May-June 1997, Vol. 16, No.3).

Em que termos deve ser colocado o debate sobre direitos humanos? Se a tortura e a pena de morte devem ser repudiadas, independentemente das circunstâncias, a questão dos meios e sua efetividade são irrelevantes? Por que condenar a tortura e silenciar sobre atos de “guerra”? Por exemplo, os bombardeios, que se sabe previamente que causam dano à vida humana, dado o seu alto poder destrutivo, são justificáveis para a segurança e a defesa nacional? Para o mainstream as operações militares, em que morrem ou resultam feridos civis, não podem ser qualificados imediatamente como crimes, sempre que seu objetivo não seja infligir “deliberadamente” o individuo indefeso.

Será preciso dar razão a Stalin quando disse que “A morte de uma pessoa é uma tragédia; a de milhões, uma estatística”?


Reginaldo Nasser - Professor de Relações Internacionais da PUC-SP

 
FONTE: CARTA MAIOR
(http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=16883)